O meu pai era daquelas pessoas
que "fogem" dos médicos...por isso ter ido a uma urgência, no início
de julho, ao hospital de Cascais, significava que não se devia estar a sentir
nada bem. Na realidade tinha dores, estava afónico, tinha perdido peso, tinha
tosse… Depois da consulta, com direito a análises e raio x ao torax, veio para
casa com antibiótico e o pedido para uma consulta de otorrino (que ficou
marcada para 10 de agosto).
Mas o meu pai pouco melhorou…E
foi ficando cada vez mais fraco.
Mas não se queixava…o meu pai
nunca se queixava.
Numa das visitas que lhe fez,
(18 de Julho) a minha irmã assustada com o que observou decidiu levá-lo a uma
clínica privada. Após consulta e raio X, o médico disse-lhe que ele tinha que
ser internado nesse dia pois o estado dele era grave. E assim foi, ela levou-o
a um hospital público (HSX) e ele ficou internado nesse mesmo dia.
No dia seguinte fui vê-lo ao
Hospital.
Estava fraco, com dores e mal o
consegui ouvir. Estava praticamente afónico.
Enquanto ele dormia o médico
quis falar comigo. Levou-me para outra sala e comunicou-me que o meu pai tinha
um cancro de pulmão já num nível avançado (estadio iv). Claro que, este
diagnóstico tinha ainda de ser comprovado com mais alguns exames… mas havia
quase 100% de certeza de que era um tumor maligno e já com metástases. O tac
tinha mostrado “qualquer coisa” no fígado também.
Foi difícil ouvir…mas não foi
nada que me surpreendesse. O meu pai não tinha cuidados com a sua saúde e, infelizmente,
fumava muito. Desde miúda que sempre achei que uma coisa deste género iria
acontecer, mais tarde ou mais cedo…mas, mesmo assim, a confrontação com a
situação foi muito dolorosa.
No dia seguinte, o meu pai foi
transferido para o hospital Egas Moniz, onde começou a fazer os vários exames
para confirmar as suspeitas dos médicos.
Ao fim de uns dias veio a
confirmação. Cancro no pulmão com ramificações na garganta e metástases no
fígado. Nos ossos…não cheguei a saber se havia alguma coisa.
Como havia a possibilidade de
fazer quimioterapia o médico informou o meu pai, (26 de Julho) que ele tinha um
cancro no pulmão e necessitava de quimioterapia (não lhe falou na existência
das metástases…não valia a pena e eu também já tinha manifestado ao médico a
ideia de que não valeria a pena dizer-lhe). Era suposto ele sair no dia
seguinte, e ir viver para casa da irmã durante esta difícil fase que se
avizinhava. No entanto, por causa de uma infecção pulmonar teve que ficar mais
uma semana no hospital…talvez saísse no final dessa semana…
No fim de semana passado,
durante a minha visita, achei que ele estava com a barriga muito inchada, e por
isso na segunda de manhã lá fui para o hospital para tentar falar com o médico
que o seguia. Fiquei a saber que ele estava a perder a função hepática. Era
mesmo um mau prognóstico. Apesar do médico não me ter dito, naquele momento
achei que o meu pai já não sairia vivo do hospital.
A partir daí passei a viver diariamente
com medo de um telefonema do hospital e, ao final do dia, assim que o Rui
chegava a casa, rumava ao hospital para estar com o meu pai, levar-lhe fruta e
ice tea, as únicas coisas que lhe apetecia “comer.”
E ele estava cada vez mais
fraco…Na 3ª feira, pouco antes de eu sair, puseram-lhe um daqueles aparelhos
nos dedos que medem o batimento cardíaco. Saí de lá desolada.
E chegámos a Agosto. Como as
escolas fecharam passei a estar com as minhas filhotas durante o dia…já só
podia mesmo ir ao hospital ao final da tarde.
Na 4ª feira de manhã, a minha
prima Anabela (que foi incansável e me ajudou imenso nestes últimos tempos) foi
falar com uma médica e disseram-lhe que o fígado já tinha praticamente parado.
Pensei que ele morresse nesse dia.
Quando, nessa tarde, cheguei ao
hospital ele estava cheio de tubos, de fios,…, perguntou-me (a custo…porque era
difícil ouvi-lo) se eu sabia para o que era aquilo e eu respondi-lhe…”se calhar
é a quimioterapia”. E a partir daí alimentei essa ideia… essa mentira (esse meu
sonho). Ele tinha começado a quimio, que depois continuaria quando fosse para
casa. E foram esses os argumentos que usei, (e que usámos) durante os dias
seguintes, quando ele se queixava… “ a quimioterapia não é fácil…toda a gente
sabe…mas é para ficares melhor, sentires-te melhor, respirares melhor,…”.
Na 5ª feira ao final do dia ele
estava igual…fiquei esperançada que ele aguentasse até ao fim de semana. [A
minha irmã estava no estrangeiro e só chegaria no final dessa semana]. Nesse
dia, quando cheguei ao hospital ele perguntou-me se lhe tinha trazido uma meloa.
Disse-lhe que não. Que com este tratamento não podia comer, mas que assim que
lhe tirassem os tubos e ele voltasse a poder comer o faria. “Talvez no fim de
semana”, disse-lhe ele acenou-me que sim.
Eu queria que ele não sofresse…
Ele estava mais cansado. Nesse
dia já praticamente não “conversei” com ele, pois ele queria dormir. Durante o
tempo que lá estive, fiz-lhe festinhas e fui fazendo o que ele me pedia…o que
ele precisava…
Vim-me embora, pouco depois das
21:30, bem depois da visita ter terminado. Ele ficou a dormir.
Na 6ª feira, dia 3 de Agosto,
dia do aniversário da minha Filipinha, por volta das 9 da manhã ele faleceu.
Agora está em paz…
Acho que foi melhor para ele…
Mas para quem cá fica…por mais
que já se esteja à espera deste desfecho…não se está preparada. L
É a lei da vida…
Pai, adoro-te muito…descansa em
paz. Vou ter muitas saudades tuas!
P.S. Peço-vos desculpa…mas
precisava de desabafar.